2025: O que teremos pela frente?
O setor têxtil português, um dos pilares da economia nacional, enfrenta 2025 com desafios profundos e oportunidades que, se as soubermos capitalizar, poderão ser promissoras. Num contexto de transformação global, a indústria tem a oportunidade de consolidar a sua posição como referência em know-how, qualidade, inovação e sustentabilidade.

2025, além de marcar um ponto de viragem, promete ser um verdadeiro teste à capacidade de adaptação do setor e à tenacidade de quem nele trabalha.

Um setor em resiliência contínua
Nos últimos anos, o setor têxtil português superou crises económicas, escaladas de custos energéticos e, recentemente, mudanças no comportamento dos consumidores. Contudo, 2025 apresenta-se como um teste à sua capacidade de adaptação face à “tempestade perfeita” que enfrenta. Os efeitos da concorrência desleal de plataformas ultrarrápidas, a crise económica nos principais mercados de exportação e a introdução de novas regulamentações, como o Passaporte Digital de Produto (DPP), a imposição de reporte de sustentabilidade (CSRD) e a recolha seletiva de resíduos têxteis exigem respostas urgentes e estratégicas. Que, se por um lado tenta nivelar o desigual terreno de jogo, por outro está a impactar fortemente o setor, pois, na realidade não queremos competir com países onde os valores que temos como diferenciadores não são sequer preocupação. Mas, contudo, estes estão-nos a levar uma fatia de leão do que vendíamos.

Sustentabilidade e Economia Circular: o futuro da indústria
Com o objetivo de se cumprir a obrigatoriedade de recolha seletiva de resíduos, 2025 será um ano crucial para determinar se o setor conseguirá transformar esta obrigação num motor de inovação e desenvolvimento. O que parecia uma ideia distante será agora uma realidade. Contudo, a realidade atual é preocupante: a maior parte dos municípios ainda depende de aterros sobrecarregados, enquanto o setor enfrenta dificuldades em educar o consumidor para implementar soluções práticas de reutilização, reparação e reciclagem. Reciclagem que tem tudo para deixar de ser tendência, para se tornar norma para o que não se puder reutilizar, mudando drasticamente o impacto da indústria têxtil no planeta. Mas não será de qualquer maneira… A questão da qualidade dos resíduos provenientes da moda ultrarrápida tem vindo a ser um obstáculo. Mas não deixará de ser um desafio de como transformar tecidos de baixa durabilidade, qualidade e composição duvidosa em novas matérias-primas de valor acrescentado? Este desafio exige não só inovação tecnológica, mas também cooperação estreita entre a comunidade científica, os setores público e privado, de forma que se promova uma verdadeira economia circular.

Educação e Formação: O Alicerce do Futuro
Nenhuma transformação é possível sem pessoas comprometidas e qualificadas. E para enfrentar estes desafios, a formação contínua dos profissionais do setor têxtil é crucial. Nisso, a Academia do Têxtil desempenha um vital na capacitação, oferecendo formação in job adaptada às novas necessidades tecnológicas e sustentáveis do setor e de cada uma das empresas que compõem a Academia. Porque na realidade o setor mudou muito, assim como as valências que são necessárias. Parcerias com instituições de ensino são cruciais para garantir uma mão-de-obra preparada para os desafios de 2025 e dos anos vindouros.

A Inteligência Artificial: o Aliado e não o inimigo
A Inteligência Artificial (IA) é mais um desafio para o setor têxtil e emerge como uma ferramenta essencial para a otimização da gestão das empresas, de processos, design personalizado e, acima de tudo, previsão de tendências de mercado. Com investimentos em IA e blockchain, o setor pode liderar em inovação, sustentabilidade e acima de tudo em eficiência, alinhando-se às recomendações do Relatório Draghi e garantindo competitividade no mercado europeu. Por isso, a IA não é um bicho papão nem um carro sem travões, mas sim uma ferramenta essencial para estes novos tempos.

O Que Está em Jogo?
O ano de 2025 apresenta-se como um verdadeiro ponto de inflexão para o setor têxtil português. Mais do que um desafio de competitividade, será um teste ao compromisso do setor com um futuro sustentável. Este é o momento de agir, e a pergunta que se coloca não é apenas se estamos prontos para enfrentar as adversidades, mas se estamos dispostos a liderar a mudança necessária e sermos nós a tomar conta do jogo?

A resposta a esta pergunta irá moldar a posição de Portugal na indústria têxtil global. A capacidade de adaptação às exigências de sustentabilidade, a reestruturação das cadeias de abastecimento e a integração da inteligência artificial não serão apenas importantes: serão cruciais. No entanto, liderar essa mudança requer mais do que tecnologia e estratégia. Requer pessoas, formação e capacitação profissional, o que se assumem como pilares indispensáveis para o sucesso e de elevada competitividade. Investir nas pessoas e nas suas requalificações será a base para construir um setor inovador, mais resiliente ainda e competitivo.

2025 não será apenas mais um ano. Será um marco para redefinir a indústria têxtil portuguesa. Porque desejar um futuro melhor não basta — temos de o construir.”

LUÍS CRISTINO
Presidente da Assembleia Geral da Academia do Têxtil