Hélder Carvalho: “A colaboração entre gerações é essencial para fortalecer o setor e garantir a sua evolução”

A indústria têxtil portuguesa passou por uma transformação significativa ao longo das últimas décadas, tornando-se mais autónoma, competitiva e inovadora. No entanto, novos desafios exigem uma evolução contínua. Hélder Carvalho, Diretor do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho, analisa o futuro do setor, destacando a importância da sustentabilidade, da valorização do conhecimento geracional, da formação e da inovação. O especialista reforça ainda o papel essencial das associações e do apoio institucional no desenvolvimento da indústria têxtil.

O Futuro da Indústria Têxtil Portuguesa
A indústria têxtil portuguesa percorreu, nos séculos passados, um longo caminho de transformação, evoluindo de um modelo predominantemente baseado na subcontratação para estruturas mais sofisticadas, como o desenvolvimento de marcas e produtos próprios e serviços private label. Esta transição é fundamental e deve ser continuada, pois é nestas atividades que se concentra maior valor acrescentado e, consequentemente, as oportunidades económicas mais interessantes.

Para tal, tem-se observado uma grande evolução em design, desenvolvimento de produtos, gestão de empresas e processos, tornando as empresas mais autónomas e competitivas. O setor também passou de operações de baixa tecnologia para processos avançados, apoiados num profundo conhecimento técnico adquirido ao longo do tempo.

Este progresso foi possível graças a esforços intensos em formação, que envolveram todos os níveis de ensino académico e profissional, capacitando desde veteranos até novos talentos. A combinação entre a formação académica e a experiência prática das gerações mais antigas tornou a indústria mais resiliente e eficiente, superando crises e desafios.


Sustentabilidade: O Novo Desafio
Hoje, a sustentabilidade apresenta-se como o principal desafio da indústria têxtil. As empresas portuguesas têm adotado soluções inovadoras para cumprir as exigências regulatórias e ambientais, servindo como exemplo de adaptação e responsabilidade. A resposta a este desafio deve seguir o modelo de evolução contínua que tem caracterizado o setor.


Valorização do Conhecimento e Colaboração Geracional
Sendo uma indústria baseada em pessoas, é essencial valorizar as mesmas e o seu conhecimento. Aqui, é basilar considerar os vastos conhecimentos acumulados pelas gerações mais experientes. Estes conhecimentos, construídos ao longo de décadas de experiência, não podem ser adquiridos em sala de aula e devem ser transmitidos às novas gerações. Os profissionais iniciantes precisam abordar esta troca com humildade, reconhecendo as limitações da aprendizagem académica e a importância da experiência prática. Os profissionais veteranos, por outro lado, devem compreender que os recém-formados não sabem tudo. Chegam com uma base sólida, mas que precisa ser complementada com experiências reais. Esta colaboração geracional é essencial para fortalecer o setor e garantir a sua evolução, sem desperdiçar o imenso manancial de conhecimento presente na indústria.


O Papel da Formação e da Inovação
A formação é um pilar fundamental para o futuro da indústria. As Escolas Profissionais devem manter cursos atualizados e formadores qualificados para responder às solicitações imediatas do mercado. O ensino superior, por sua vez, deve fomentar a aquisição contínua de conhecimentos por parte dos seus docentes, que por sua vez permitirá envolver os estudantes no desenvolvimento de novos processos e produtos.

Os Centros de Investigação e Centros Tecnológicos devem procurar colaborações em projetos de investigação e desenvolvimento que atendam às necessidades industriais, sem negligenciar a investigação de aplicação menos imediata. Esta abordagem estimula a inovação e permite avanços significativos no setor através de transferência de conhecimento e da mão-de-obra qualificada que emana das Escolas, em que os estudantes foram envolvidos nestes processos e tomaram contacto com os conhecimentos.


Apoio Institucional e Reconhecimento
As associações desempenham um papel essencial na defesa dos interesses do setor, promovendo a colaboração entre empresas, contribuindo para a regulação do setor, agregando informação relevante e criando pontes entre os diferentes stakeholders.

Os governos devem aumentar o financiamento para formação e investigação, especialmente no ensino superior, onde o subfinanciamento tem nos últimos anos comprometido gravemente avanços, principalmente na formação.

A imprensa também tem uma missão crucial: divulgar não apenas dificuldades, mas também as conquistas da indústria têxtil, melhorando a sua imagem e incentivando na sociedade o respeito e o reconhecimento pelo trabalho realizado.

O futuro da indústria têxtil depende da continuidade dos seus esforços de formação, inovação e colaboração entre gerações. Com uma atitude resiliente e adaptativa, o setor continuará a superar desafios e a destacar-se como exemplo de evolução e sustentabilidade.”



HÉLDER CARVALHO
Diretor do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho

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